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Futuríveis

sexta-feira, julho 07, 2006

Augusto Mateus: Ficámos numa espécie de terra de ninguém

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Resolvendo o problema da legislação laboral resolve-se uma boa parte do problema português?
Obviamente que podemos melhorar, mas o nosso problema é de eficiência, de produtividade e de organização. Ficámos numa espécie de terra de ninguém. A Europa a 25 está claramente dividida entre um pelotão da frente, onde estão todos os 15 menos a Grécia e Portugal. Depois temos a Grécia e Portugal apanhados por alguns dos mais avançados dos novos membros e a caminho de ser apanhado pelos que estão menos avançados.
O que é que isso significa?
Do ponto de vista do território ficámos numa situação em que não estamos tão próximos dos mais desenvolvidos que possamos fazer as coisas que esses fazem nem tão afastados dos outros. Ao nível da competitividade micro, ficámos demasiado prisioneiros da produção, longe da concepção e longe da distribuição. Ficámos no meio das cadeias de valor, exactamente naquelas actividades que perderam mais valor. Portugal apresenta indicadores muito engraçados do ponto de vista da dinâmica da exportação em quantidade, mas apresenta indicadores muito pouco interessantes na dinâmica da exportação em valor.
Estamos na produção de baixo valor acrescentado.
Na série longa que nos traz desde a adesão até 2002/2003 - não fiz as conta para os últimos dois anos -, Portugal foi o país que mais fez expandir na Europa as sua exportações em quantidade, o que indica um eficiência de quantidade razoável. Mas passamos de primeiro para 14º - só a Grécia fica atrás de nós nos 15 -, quando fazemos as conta em valor significa que a nossa produtividade é muito insuficiente. Quando falamos de défice de produtividade em Portugal as pessoas ligam muito a esforço individual. É a legislação laboral, são os horários de trabalho, são as pontes, são feriados. Claro que podemos melhorar muito a esses níveis, mas o nosso problema é que o que fazemos não tem valor suficiente.
Como é que isso se inverte?
Temos tentado responder a isto com uma lógica que me parece também desequilibrada que é ir para montante e não para jusante. Quando se diz que fazemos coisas com pouco valor acrescentado pensa-se em pôr dinheiro na ciência e tecnologia. Não posso estar mais de acordo na necessidade de se pôr mais dinheiro na ciência e tecnologia, mas o nosso principal problema é no downstream. Temos de ser muito mais fortes a vender e estar preocupados com as nossas ligações internacionais e com a nossa capacidade de levar a certos mercados e sermos nós a distribuir certos produtos. Não interessa se fomos nós que os fizemos.
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