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Futuríveis

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Problemas de Crescimento ?

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O que os «rejuveniles» de agora reclamam então, precisamente, é a liberdade de «brincar», algo que teria ficado - nesta repartição de modelos e normas comportamentais - para as crianças, excluindo assim os «adultos» dessa dimensão preciosa da vida.

No caso destes «rejuveniles», não se trata, porém, de não querer crescer ou de manter uma postura irresponsável face ao ambiente circundante (mesmo se Peter Pan continua a ser, para este grupo, uma obra de referência, ela é vista, no entanto, como uma espécie de mitologia originária, em que a ideia de uma infância eterna aparece mais como uma vontade de permanecer capaz de dar expressão à imaginação e irreverência infantis de que como uma maneira de ficar para sempre jovem, sem crescer, vivendo num mundo de fantasia sem fim).

Esta vontade de brincar (que inclui não só o desejo de continuar a amar as coisas de que sempre se gostou - vivendo-as no dia-a-dia - mas também uma vocação para o jogo de um modo geral) tem vindo a ocupar um lugar crescente no mundo adulto dos negócios.

A noção de jogo como exercício criativo capaz de dotar gestores e executivos de flexibilidade, estimulando neles o engenho e a criatividade necessárias para as suas tarefas, levou ao aparecimento de empresas especializadas neste tipo de «coaching». Uma dessas empresas chama-se mesmo Play, e a sua missão é criar ambientes incomuns (espaços, situações), de modo a suscitar nos executivos participantes uma «libertação» criativa de energias que passa, no essencial, por recriar contextos favoráveis à «brincadeira». Citando Georges Bernard Shaw, estes «rejuveniles» tomaram como sua a palavra de ordem: «Nós não paramos de brincar por envelhecermos; nós envelhecemos por pararmos de brincar.»


Crescer para quê? O livro de Noxon é, claramente, um manifesto, e o que de melhor há nele é a sua capacidade de nos dar a ver a emergência de uma tendência social que, de forma bastante interessante, se vem cruzando com outras manifestações contemporâneas que lhe são, em parte, confluentes.

Embora o livro de Noxon tenha suscitado alguma controvérsia - sendo até mesmo acusado de contribuir para uma ainda maior infantilização das sociedades contemporâneas -, o facto é que delimitou um território e deu expressão a uma pulsão que hoje anima um número significativo de indivíduos: uma exigência de mais tempo livre, menos stress e mais divertimento (não «recreação», como pejorativamente Noxon chama ao entretenimento «embalado» pelo sistema comercial).

Esta é também a tónica dominante - embora de um ângulo de abordagem diferente - de um outro livro acabado de sair, intitulado Consumed - How Markets Corrupt Children, Infantilize Adults and Swallows Citizens Whole.

Escrito por Benjamin R. Barber (ed. Norton, 2007), o livro critica de forma impiedosa uma indústria que elegeu, nos últimos anos, as «crianças» como consumidores-alvo das suas estratégias. «Mais do que criar produtos», diz Barber, «o que a indústria faz hoje é inventar necessidades.»

Referindo-se aos «rejuveniles» (tal como a outros movimentos, como os «twixters», de que falaremos mais adiante), Barber considera-os como sinais de uma mudança cultural de extrema magnitude, em que as forças do mercado procuram que «os adultos se mantenham tão infantis quanto possível e, ao mesmo tempo, treinam as crianças a consumir em idades cada vez mais recuadas».

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Rui Trindade, Expresso Actual

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